quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Duas
Elizabete
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Dona Vânia parte II e notícias terríveis no domingo
E estava, contudo, parada debaixo do sol, mirando a esquina para, assim que avistar as pessoas, fazer soar o chamado ao bairro inteiro, juntamente com os fogos de artifício que os homens iriam queimar em frente à igreja.
A procissão estava longe de acabar, mas eu continuava em pé, aguardando pacientemente. Mas, olhando para a esquina contrária, me pego observando uma pessoa em especial, me distraindo da minha função. Era alguém em uma cadeira de rodas, levando um vaso de flores no colo. E as flores eram tantas e tão grandes, que cobriam o rosto dessa pessoa por completo. Atrás, empurrando a cadeira, vinha uma senhora ofegante, o suor lhe derramava sobre o rosto e ela se esforçava para levar a acadeira até a igreja. Naquele momento, percebi quem vinha coberta de flores. Dona Vânia, sobre quem já falei aqui (http://www.ospirulitosacabaram.blogspot.com.br/2012/08/com-carinho.html). A rã no tacho de leite.
A poucos dias, essa senhora havia quebrado a bacia. Além de todos os seus problemas, ela tinha que aguentar mais uma dor, e não poderia mais fazer o transplante, tendo que piorar o estado de seus braços, por continuar a fazer transfusão. Ela era, de todos os fiéis que frequentavam a missa (e, por seu estado, nós não tínhamos mais a visto) a que mais tinha o direito, e até dever, de se poupar do calor e esforço e ficar em casa, se cuidando. Mas ela vinha, lutando contra a dor que sentia, e que se estampava em seu rosto, e sempre auxiliada pela irmã, trazer as flores ao Santo a quem ela tanto orava.
Quando ela chegou, nós logo tratamos de pegar a cadeira de rodas e dar uma "folga" a sua irmã, também uma senhora já meio frágil. Assim que me viu, disse-me "Manda alguém lá na minha casa, porque eu fiz uns pudins para dar à festa, mas não pude trazer por causa da cadeira!".
Posso dizer que lutei contra minhas lágrimas, e que tive certeza de que a fé realmente move e dá forças ao ser humano.
Sei que nem todas as pessoas que leem o que escrevo, acreditam em algo superior, ou em Deus, propriamente. Mas gostaria de fazer um pedido: Jamais tirem a fé de alguém. Jamais façam uma pessoa duvidar daquilo em que ela acredita. É o maior tesouro e esperança que essa pessoa pode ter, e, assim como a Dona Vânia, pode ser o que a mantem viva até agora.
Também nesse dia recebi notícias terríveis: uma prima no hospital, perdendo os movimentos e forças do corpo de maneira gradual e com esse problema sendo ainda um mistério, surgido do nada. E um amigo muito querido com leucemia, também no hospital, em coma.
Problemas que vêm como surpresas, terríveis e tristes surpresas. E nesses momentos, quando eu não posso fazer nada por eles (nem doar meu sangue eu não posso mais) é que eu mais rezo. São as horas em que minha fé tem mais "serventia". Pois, é como dizem: "Rezar não é pensar demais, e sim amar demais".
Aproveito aqui a história da Dona Vânia para pedir orações e pensamentos bons aos meus amigos e prima que se encontram com essas provações no meio de suas vidas.
Continuem a nadar, amigos. Pulem. O leite vai virar manteiga.
E eu estou aqui torcendo, e orando, de coração.
Caro jovem
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Acúmulo de culpas
Penso sempre: "Porque ela não vem aqui?" Tentando amenizar minha culpa que, agora, transborda e pesa nos meus ombros. Sou uma acumuladora.
Acumulo amizades, dores, culpas, anseios, sonhos impossíveis e que eu nem quero, realmente, mais. Meu ser é lotado de coisas velhas e que eu já deveria ter jogado fora. Promessas não cumpridas impedem que minhas gavetas se fechem, e sobre cada móvel há pilhas de pessoas quase esquecidas, mas que eu não quero esquecer. Elas já me esqueceram, claro, mas todas aquelas culpas sobre as quais eu acidentalmente piso enquanto caminho - pois se atiram pelo meu chão - não deixam minha memória ser ruim.
As minhas dores estão bem escondidas pelos cantos, para que ninguém que se atreva a olhar mais de perto consiga achá-las, e entre todas aquelas flores secas no meio de todos os livros já lidos, estão aqueles sonhos antigos, que eu nem quero mais, mas que (como roupas velhas) não me desfaço por medo de nunca mais conseguir olhar para trás; nunca mais poder voltar à minha forma antiga.
E ali, escondida, está você. Aliás, escondida não! Ainda lembro tanto e tantas vezes daquela visita prometida, que você só pode estar sentada espaçosamente sobre meu sofá, assoviando e batendo palmas para atrair minha atenção a cada vez que passo. Me sinto uma assassina, como se tivesse te matado no meu cotidiano, mesmo você ainda estando tão viva no meu íntimo. Mas a verdade é que nós duas mudamos, e que não faríamos mais tanto bem uma à outra.
A coisa toda é que eu não quero mais ser uma acumuladora. Preciso jogar fora o que pesa dentro de mim. E se isso implicar te jogar, jogar nossa amizade, no lixo, assim será. Tudo para poder caminhar mais leve e seguir em frente na escalada. É o que irei fazer: jogar fora todo o peso inútil.
Me entenda, cara velha amiga. Vamos seguir em frente e esquecer aquela promessa de nunca mais nos separar. Não aguento mais todos os teus quilos emocionais, e não gosto de pensar que você pode estar me esperando. Foi ótimo enquanto foi, mas te carregar seria como guardar papel de bombom na agenda, só pra lembrar como o dia foi lindo.
E eu não preciso desse tipo de lembrete. Eu sempre vou lembrar, mas só quando eu quiser.
Pílulas
sábado, 8 de setembro de 2012
Receita de Ano Novo – Carlos Drummond de Andrade
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Carta para um amigo.
Hoje venho aqui, não pra fazer mais uma homenagem. Okay, talvez sim. Mas também para externar tudo o que vem passando pela minha cabeça desde a segunda-feira, quando eu fiquei sabendo de algo que abalou um pouco o mundo de todos nós.
Meu amigo:
Eu acordei em uma manhã gelada e chuvosa de uma segunda-feira, nada animada para ir em uma aula nada produtiva. A escola não tem mais tanta graça desde que eu comecei a amadurecer. E eu não tenho mais ninguém que me faça ver a graça de novo.
Mas voltemos a manhã gelada e chuvosa: um dia que, desde o começo, se sabe que será totalmente sem graça. Acho que senti algo diferente, porque fiz uma coisa atípica: entrei na van e rezei. Um Pai Nosso, um Credo, duas Ave Marias (a mãezinha sempre merece mais). Pedi proteção, e que o dia fosse bom. E dormi novamente (afinal, a gente vai dormir sempre tarde nos domingos).
Fui acordada pelo Gustavo, me perguntando se poderia me dar uma notícia ruim. Eu disse que podia, pensando em uma possível falta à escola, por parte dele, naquele dia. E as coisas se desenrolaram de um jeito que eu já tinha visto muitas vezes... "Sabe o Michel?" "..." "Sei sim. Que que aconteceu?" "pois é... disseram que ele reagiu a um assalto...".
Pensei em tantas coisas aquela hora. Jurei que era brincadeira, cheguei a pensar que tu tava no hospital... Mas a notícia era a de que tu tinha falecido.
Eu ainda choro. Talvez seja fraqueza. Talvez seja o término de algo muito bom, e que eu jurava que ia durar mais. Poxa, cara! Tu ia ser o tio loucão das minhas crianças! A gente ia ter muita história pra contar!
Eu tive raiva. Primeiro de ti (pô, Michel! Que que tu tava fazendo?!), depois dos caras que fizeram isso contigo, e depois do mundo.
Fui pra escola tendo pequenos ataques de choro e angústia a cada 20 minutos, intercalados com momentos de calmaria em que eu me perguntava se tinha algo que eu poderia fazer por aqueles que eram mais próximos de ti do que eu. Depois eu lembrava de tudo, e as lágrimas me vinham novamente.
Tu tem noção de quantas vezes tu foi uma mola pra mim? De quantas vezes tu me animou só de conversar comigo, seja filosofando (eu sei como tu filosofava), seja falando besteria (idem ao anterior), tu levantava o astral de um jeito que só tu conseguia.
Mas enfim... fomos ao velório. Chegamos cedo. No caminho, relembramos tuas piadas de humor negro (sem bracinho, sem docinho!) e não podíamos não rir. Esperamos até tua chegada (tua? Será que era mesmo tu ali?) e da tua família.
Não posso deixar de te falar o quanto tu tinha uma cabeça brilhante e um coração de ouro. Tu era incrível, e não, essa não é uma das vezes que falamos bem de alguma pessoa só porque ela morreu. Nós vivíamos dizendo isso: TU É FODA! Só não sei se dizemos pra ti.
Foi terrível me despedir de ti. Foi terrível tentar confortar tua mãe quando em mim já tava doendo tanto. Foi terrível ver tanta gente ali reunida por um motivo tão bizarro. O Michel morrendo? Não é possível. O cara era indestrutível!
Engenharia Eletrônica, então? Não sabia disso. Aliás, acho que ninguém sabia disso. Engenharia, Michel? Eletrônica, de novo? Eu teria rido da tua cara. E tu também teria rido, pelo mesmo motivo.
Tu não tem noção, cara, do quanto eu te considero, e do quanto eu te adoro. A gente sofre em silêncio, quando a nossa vontade é de quebrar a cara de um filho da puta desses que faz isso com alguém que, tenho certeza, é insubstituível.
Já perdi muita gente. Mas dessa vez eu me peguei torcendo pra tu vir puxar meu pé à noite. Assim, quem sabe, eu possa falar contigo de novo.
Estou escrevendo na esperança de que, de algum lugar, alguma hora dessas, quando te sobrar um tempinho (afinal, o paraíso deve ser muito bacana, mesmo) leia, e lembre de mim, porque eu sei que tu significava mais pra mim do que eu pra ti. Aliás, com todo mundo deveria ser assim.
Era isso que eu tinha pra dizer de ti. Um cara especial, de excelência.
Enfim. Espero que tu encontre muitas vaginas perfeitas por aí, porque, afinal "É nesses momentos que tu sente que o teu pau tem valor".
E te lembra aquela vez na praça? Tudo bem que eu tava bêbada, mas se eu disse que tu ia estar na minha biografia, é porque tu vai estar. E vai mesmo.
Adeus, Michel. Agora eu sinto que "a ficha caiu" mesmo.
Tua curta vida valeu mais e foi mais proveitosa que a de muita gente que chega aos 100, por aí.
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Com carinho
Me utilizando da metáfora da rã no tacho de leite, quem se deixa vencer pelas dificuldades simplesmente afunda. Aquele que luta, porém, de tanto se debater transforma o leite em manteiga, consegue sair fácilmente.
Às vezes desistimos por coisas tão insignificantes, dificuldades bobas que se tornam um grande iceberg em nossa frente. Somos, a grande maioria de nós, raça humana, fúteis. Reclamamos "de barriga cheia". Nosso maior passatempo é reclamar. Atitudes para mudar, porém, raramente são tomadas...
Esse fim de semana conheci uma pessoa maravilhosa. É por ela que estou aqui, agora, escrevendo isso (no meio de uma aula, antes que minha memória e inspiração falhem). Uma mulher guerreira, se debatendo no "tacho da vida".
Filha de uma família de doze irmãos, ela luta contra cânceres (sim, no plural) desde os 35 anos. Venceu três, já. Faz hemodialise a tanto tempo que seu braço, no lugar onde são colocadas as agulhas, apresenta um grande inchaço, um "caroço" de tantas agressões da vida.
Já fez diversas cirurgias, retirou tireóide. Tem agora uma perna mais curta que a outra, por conta de um "consumo de cálcio" excessivo do organismo. A bexiga diminuiu depois das tantas radioterapias intensivas que fez. Hoje, está esperando uma cirurgia de transplante de rim.
É a esse indivíduo que dedico o texto de hoje. Melhoras, dona Vânia. O leite já está quase virando manteiga.
terça-feira, 17 de julho de 2012
Só mais um pensamento saindo por aí
Faz sentido?
sexta-feira, 13 de julho de 2012
O Lago
quinta-feira, 28 de junho de 2012
Caro residente
Deixe, amigo meu, esse seu estilo livre voar
aceite meu parnasianismo, enquanto aceito esse seu romantismo incurável.
Me aceite.
E acredite que tudo o que fiz, foi por não saber como fazer de modo diferente.
E, enfim, me perdoe, por ser nada mais que eu mesma.
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Apenas mais uma confissão
enquanto converso contigo, meus pensamentos se ajeitam dentro do seu espaço
se cutucam e acotovelam, tentando ter o seu lugar.
Cada lágrima que rola pelo meu rosto
é só mais uma angústia me deixando para trás.
Assim como Quintana deixava suas ilusões, ficando mais leve,
eu deixo que elas se vão nessa água salobra*. Respiro melhor agora.
O céu hoje estava tão mais lindo; e o azul, tão mais limpo.
E você, tão mais quente, enquanto me fazia mais feliz, somente de olhar para cima comigo
enquanto eu olho para a frente, por ti.
As árvores formavam desenhos pelo chão gramado,
contrastando com a pureza daquele céu.
E eu estava feliz. Feliz por te ter ao lado.
Nada mais.
*Valeu, Lawisch!
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Ou talvez eu a tenha perdido, mesmo ainda vivendo com ela.
Imaginar que perdi as melhores coisas que poderiam me acontecer...
por simples e pura teimosia para com o universo.
Meus livro prediletos, eu não li.
E aquele filme que tanto me emocionou, foi o que eu não quis assistir
não fui ao meu show preferido, e não conheci as pessoas que iriam me apoiar até o fim.
Não tenho arrependimentos de ser quem sou, e ter a vida que sempre tive. Quem sabe onde eu estaria se algum momento tivesse sido diferente...
terça-feira, 17 de abril de 2012
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Um frasco novo de xampú
sábado, 14 de abril de 2012
sexta-feira, 13 de abril de 2012
quinta-feira, 12 de abril de 2012
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Dos Quintanares
A razão do meu afeto
Corra
sexta-feira, 16 de março de 2012
°°°
Heróis
quinta-feira, 1 de março de 2012
sábado, 25 de fevereiro de 2012
...
E o tempo passará.
O mundo gira,
e só o que lembraremos
serão as coisas que nos fizeram sorrir,
mesmo que por pouco mais que um segundo.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Um novo dia.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Efemeridade passageira, pleonasmo proposital.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Carência
O ser humano é carente, por natureza, desde o nascimento (e se não souber se disciplinar, até a morte). Quando você saiu do útero, um lugar quentinho e calmo, sem dores, desconfortos, fome, sede, somente o aconchego do carinho e corpo materno, o sentimento de vácuo, de perda, que irá lhe acompanhar para o resto da vida, começou, ficou gravado e não sai mais de jeito nenhum. E é por isto que procuramos um amor, um emprego melhor, uma comida melhor... Não aceitamos o sentimento de perda. Ninguém aceita o fato de que não tem (ou não é) uma coisa melhor, que poderia ter (ou ser), e lá vai você outra vez, lutar pelo seu espaço no universo.
A coisa toda ajuda, claro. Impulsiona-nos à evolução. Mas o aspecto não tão bom, e que todos um dia ou outro sentirão na pele, muitas vezes sem achar bom também, é o fato de que passamos a vida toda, quer por sentimentos humanos, adquiridos desde o berço, quer por imposições da sociedade (que já foi bem pior que hoje em dia, neste aspecto), procurando a nossa ‘metade da laranja’.
Que sonho bom, um alguém que te complete totalmente, que te preencha, que mande seus defeitos e problemas embora, e te ame para todo o sempre, sendo ele(a) também uma pessoa perfeita, que você amará eternamente. Manhãs calmas e lindas, acordando ao lado de um homem jovem, belo, sem mau hálito matinal e que não roncou nenhuma vez à noite. Após o café da manhã (se bobear, servido por ele, para você, na cama), um passeio pelas ruas, à caminho da praça, uma parada para um picolé, ou um chimarrão... Almoço na casa da sua mãe (que adora ele), todos rindo e jogando canastra, completamente encantados com o quanto você está linda, e o quanto vocês formam um belo casal. À noite, jantar à luz de velas, filmes, chocolate, pipoca, vinho, dormir de conchinha... Como eu disse, um sonho.
Isso nunca acontece. Todos possuímos defeitos e problemas que não irão embora como passe de mágica, por mais felizes e satisfeitos que estejamos. Poucos casamentos duram eternamente, e quase nenhum é perfeito até a morte. Poucos dias são completamente ensolarados, poucos mares são de rosas, e se o seu for, ensine o segredo às milhares de pessoas que até hoje esperam e buscam isso.
E mais uma coisa: por que seríamos melhores, mais valorizados, só por ter um par? Não somos bons o suficiente, sozinhos? Seria isto porque não poderemos ‘procriar’ se não formos casados até os 30 anos de idade?
Ora, tomem vergonha na cara, e deixem as solteironas em paz!
Por quantas vezes mais
Engolir o nada, cheio de vazio,
Antes de deixar que rolem as lágrimas?
Às portas do seu reino
Eu espero, pacientemente.
Chorando cada lágrima,
e sentindo cada sensação
Que só eu sei sentir.
Sentada sob a chuva,
Os meus olhos te seguirão
E tua casa habitarei,
Pensando em tudo que sofri,
Fingindo não querer descansar agora.
E, como uma pedra, ser guiada pela inércia da vida,
Pelo meu próprio peso.
sábado, 11 de fevereiro de 2012
E virão os sete anjos
Com suas sete taças
Juntos, pela primeira vez
Castigar-me
Por coisas das quais não me arrependi.
Porque tu és a fera
De dez chifres
Que me veste com ouro,
Que suja meu sangue mártir.
Se todas as batalhas são por poder
E todas as vitórias,
Covardias,
Não me odeie por ser quem sou
Pois todos estão errados
Inebriados com seu excesso de luxo.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Papel colorido
sábado, 28 de janeiro de 2012
...
Ela não sabia que horas eram, tampouco onde estava. O que lembrava da noite anterior eram fragmentos de risos, conversas, e o que aconteceu depois daquela festa, que já havia se tornado obrigatória em sua rotina.
Algumas horas atrás (ou talvez dias, semanas, meses... afinal, quanto tempo uma pessoa poderia sobreviver sem comida ou contato humano, fechada em um lugar escuro e pequeno?) ela se divertia com amigas em um pequeno clube da capital. Sua mãe, claro, não sabia onde a filha estava, e nem se importava, afinal, mentia tanto para a pobre dona de casa, que ela já fingia que sua prole não existia, para se livrar da dor de ter criado uma, como dizia ela, “perdida”.
Mas aquela festa foi diferente. Drogas mais pesadas, gente que nunca frequentaria a escola particular e cara que os pais dela pagavam... foi na volta para casa que tudo aconteceu, e inacreditavelmente, ela lembrava-se daquela parte da noitada.
Alice foi a primeira a perceber, mas bebera mais que as amigas que a acompanhavam, e, portanto tinha os reflexos mais lentos. Todas as outras correram, mas ela acabou por deixar-se vencer. Um homem, de altura e largura descomunal, saiu de um beco que continha latas de lixo. Provavelmente estivera ali a noite inteira, somente à procura de vítimas, e encontrara a perfeita. A menina estava tão tonta que por sorte não desmaiou ao ter a desagradável surpresa. Obviamente isto não fora o suficiente para lhe dar a oportunidade de fugir, pois o homem, de jeito nojento como os motoristas de caminhão que costumavam buzinar e gritar coisas sujas quando elas e as amigas passavam, e corpulento como um jogador de futebol americano aposentado, estava preparado, com um pano embebido em uma solução que faria o mais forte dos homens desmaiar.
E agora ela acordara ali, com as roupas rasgadas e uma terrível e assustadora (mais assustadora que uma ressaca normal, com as quais já estava tão acostumada) dor de cabeça.
Sentira também uma dor na região da virilha, e, ao olhar para baixo, descobrira uma grossa e escura mancha de sangue.
Parecia que sua capacidade de assimilar os fatos a abandonara naquele momento, e suas pernas começaram a tremer e ameaçaram lhe deixar na mão, quando a ideia de estupro passou por sua cabeça.
Acontece que coisas ruins nunca acontecem com ela, somente com pessoas menos espertas, jovens e bonitas. Pessoas que vivem na miséria e que têm suas casas alagadas todo o ano pelas chuvas da época. Mas ela era melhor que isso, era especial demais para ter esta experiência em sua ficha.
Fechou os olhos e comprimiu a boca ao pensar nisso. Não era possível, ela ainda deveria estar bêbada, e agora estava tendo ilusões.
Mas não adiantava tentar. As dores eram reais demais para serem ilusões, não conseguia enganar-se.
Sua mãe!_ pensou ela, com uma pontinha de esperança_ sua mãe certamente iria procurar por ela. Deveria estar procurando neste momento, afinal, que mãe não ficaria desesperada ao perceber que a filha não voltara para casa?
Mas esta ideia foi embora, assim que ela percebeu que fizera isto tantas vezes_ passava semanas fora de casa, sem explicações coerentes, a não ser “minha melhor amiga agora tem uma casa de praia”_ que nem mesmo a mãe mais coruja e super protetora daria atenção ao evento.
As amigas! Elas a viram sumindo, estavam lá quando fora sequestrada!
Mas correram para livrar-se, e deveriam estar com tanto medo que não avisariam a polícia. Afinal, nenhuma delas tinha a ficha completamente limpa, eram adolescentes “soltas no mundo”, vivendo seus dias de rebeldia como se tudo fosse acabar amanhã.
Estava realmente perdida. Seu estômago se embrulhou ainda mais quando pensou que aquele homem poderia voltar para saciar-se mais um pouco. Afinal, se ele não a quisesse mais, ela estaria em liberdade a esta hora.
Seus olhos começavam a acostumar-se com a escuridão, e agora ela percebia que o lugar onde estava era um pequeno quarto sujo e com venezianas apertadas que não deixavam passar muita luz. Não havia cama lá, nem nada, e ela pensou como aquele enorme homem havia conseguido entrar naquele cubículo pequeno e sujo. Talvez ele só a tivesse jogado ali depois, para morrer de fome, enquanto procurava outra vítima qualquer.
Neste momento, ela escuta um ruído alto, perto. A porta se escancara de repente, e ela vê surgir um garoto, magro e alto, com a aparência de, no máximo, 17 anos.
_Me desculpa por isto_ dia o rapaz, que, surpreendentemente, tem uma voz fina e parece incapaz de fazer mal a uma mosca. _Meu patrão tem impulsos desvairados, e não consegue ser contrariado. Venha se limpar e irá para casa, ele saiu e darei um jeito de tirar você daqui._ disse, estendendo a mão fina e branca a ela.
Alice aceitou de bom grado o convite, afinal, ela estava em uma situação que dificilmente poderia piorar, o que tinha a perder? E viu-se sendo conduzida por um pátio comprido e muito bem cuidado, onde o quarto pequeno e opressor que estava era somente um pequeno detalhe que sujava o gramado. Uma casa enorme erguia-se a sua frente, majestosa e branca como um hospital particular, ou um templo de religiões que ela não sabia o nome.
Para sua surpresa, o criado levou-a para dentro da casa, passando pela cozinha onda havia três mulheres cozinhando, costurando e assistindo uma tv minúscula que ficava tão alta que a mulher que se ocupava desta tarefa mantinha o pescoço apoiado no encosto da cadeira, para evitar dores. As mulheres olharam para ela com nojo e desprezo quando ela entrou, talvez, pensou ela, porque deveria estar imunda, manchada de sangue que o dono daquela casa havia lhe tirado.
_Não ligue para elas_ o rapaz lhe falava, enquanto eles saíam da cozinha em direção ao saguão mais formal que ela já havia visto._ Odeiam quando seu marido traz uma desconhecida para casa, quer a moça tenha vindo de bom grado, ou tenha sido arrastada, como você. Sentem-se ultrajadas por não conseguirem mais satisfazer o patrão.
_Todas elas são esposas Dele?_ espantou-se ela, pensando que deveriam ser muçulmanas, para ter os costumes que tinham.
_Elas e mais cinco, todas vivendo aqui, com ele, nenhuma com filhos. São para cozinhar e fazer todas as vontades dele. E, principalmente, para o sexo.
Começava a ficar mais assustada ainda, com medo do “patrão” chegar em casa quando ela ainda estava lá. Com medo de ser forçada a ser a nova esposa daquele homem desprezível e nojento. Mas, interrompendo seus pensamentos, o empregado abre uma porta, revelando um lustroso banheiro, branco como o resto da casa. Roupas esperavam por ela sobre a pia, e toalhas brancas e felpudas descansavam sobre o box.
_Tome seu banho, eu a levarei para casa. Espero que você esteja bem o suficiente para não precisar de um médico. Entenda, seria melhor para todos, inclusive para você, que não contasse a ninguém. O patrão tem influência, nunca seria preso nem processado, e ainda por cima, iria atrás de você, e a faria ficar de boca fechada. E, claro, cortaria minha garganta, por eu não ter conseguido te convencer a ficar quieta...
Fechando a porta as suas costas, o rapaz saiu, deixando-a sozinha e mais apavorada do que estava ao descobrir o sangue que agora secara, na parte de dentro de suas pernas.
Tratou de tomar logo o banho, o mais rápido possível. Não aguentava mais ficar naquela casa, lembrar daquilo, tinha medo de tudo o que estava ao seu redor.
20 minutos depois de ser deixada só, no banheiro, ela desceu as escadas, surpreendendo o rapaz a esperando no saguão, pronto para lhe levar para casa.
_Isto deve ser seu_ disse ele, entregando à ela seus pertences (um celular sem bateria e uma carteira praticamente vazia). _Vamos logo.
Saíram para a frente da casa, onde o motorista os esperava com o carro. Era incrível como todos a olhavam com pena e compaixão_ tirando, claro, as esposas, que deveriam saber bem o que era passar por aquilo, até mais que ela._ como se até mesmo os vizinhos soubessem o que haviam feito com ela.
Alice entrou no carro, logo atrás do empregado. Antes de perceber, estava em casa, sem saber se cochilara ou entrara em um estado de transe, e nem como o motorista sabia onde ela morava. E nunca ficou sabendo.
As amigas nunca mais falaram sobre isto, ela nunca mais viu nem o homem, nem o empregado, e, alguns anos depois, ainda se perguntava se tudo aquilo não havia passado de um simples sonho.
Pressa
Era um dia quente, já no fim do verão. O calor a incomodava um pouco, mas era um compromisso urgente e inadiável, ela não poderia chegar atrasada, por isso caminhava rápido. Sua camiseta já grudava ao corpo nas costas, e os cabelos estavam encharcados na nuca.
O dia estava, sem exageros, lindo. O jeito como o sol batia nas folhas das árvores faria qualquer um parar, boquiaberto. As sombras na estrada e os campos à direita fariam qualquer um suspirar e agradecer por poder estar ali e ver aquilo tudo. Qualquer um, menos a menina que quase corria para chegar a um destino desconhecido aos que a observavam.
Destacando-se na paisagem tão bonita, um homem cambaleava. Não estava mal vestido, na verdade parecia ter saído de seu próprio casamento. Ele se debruçava nas lixeiras das ruas, tentando recuperar o equilíbrio, com uma expressão tão triste quanto a sujeira grudada nas vestes chiques poderia sugerir.
Mas ela não notou. Não notou a tristeza do homem, nem a beleza da paisagem, nem o riso das crianças que brincavam por perto, nem o vento refrescante que soprava. Ela mal notava o calor. Precisava chegar cedo, precisava ir rápido.
Ela não notou o caminhão que vinha em sua direção, acelerado demais para parar.
Ela não notou o homem, que gritava para avisar.
Ela não notou quando as crianças pararam de rir, nem quando o sol parou de brilhar. Ela não notou quando tudo silenciou, nem quando tudo escureceu. Ela não notou.
Ela só queria chegar logo.