Era um dia quente, já no fim do verão. O calor a incomodava um pouco, mas era um compromisso urgente e inadiável, ela não poderia chegar atrasada, por isso caminhava rápido. Sua camiseta já grudava ao corpo nas costas, e os cabelos estavam encharcados na nuca.
O dia estava, sem exageros, lindo. O jeito como o sol batia nas folhas das árvores faria qualquer um parar, boquiaberto. As sombras na estrada e os campos à direita fariam qualquer um suspirar e agradecer por poder estar ali e ver aquilo tudo. Qualquer um, menos a menina que quase corria para chegar a um destino desconhecido aos que a observavam.
Destacando-se na paisagem tão bonita, um homem cambaleava. Não estava mal vestido, na verdade parecia ter saído de seu próprio casamento. Ele se debruçava nas lixeiras das ruas, tentando recuperar o equilíbrio, com uma expressão tão triste quanto a sujeira grudada nas vestes chiques poderia sugerir.
Mas ela não notou. Não notou a tristeza do homem, nem a beleza da paisagem, nem o riso das crianças que brincavam por perto, nem o vento refrescante que soprava. Ela mal notava o calor. Precisava chegar cedo, precisava ir rápido.
Ela não notou o caminhão que vinha em sua direção, acelerado demais para parar.
Ela não notou o homem, que gritava para avisar.
Ela não notou quando as crianças pararam de rir, nem quando o sol parou de brilhar. Ela não notou quando tudo silenciou, nem quando tudo escureceu. Ela não notou.
Ela só queria chegar logo.
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