terça-feira, 30 de outubro de 2012

Dona Vânia parte II e notícias terríveis no domingo

   Esperava a procissão acabar para puxar o sino da igreja, e avisar a todos os fiéis que a Missa iria começar. Era um domingo especial, dia de um Santo especial e um dia muito quente. Eu parada suava, e entendia as pessoas que decidiram não vir a essa festa religiosa, e ficar na fresquidão de suas próprias casas, no conforto de suas camas. Eu mesma queria continuar lá.
   E estava, contudo, parada debaixo do sol, mirando a esquina para, assim que avistar as pessoas, fazer soar o chamado ao bairro inteiro, juntamente com os fogos de artifício que os homens iriam queimar em frente à igreja.
   A procissão estava longe de acabar, mas eu continuava em pé, aguardando pacientemente. Mas, olhando para a esquina contrária, me pego observando uma pessoa em especial, me distraindo da minha função. Era alguém em uma cadeira de rodas, levando um vaso de flores no colo. E as flores eram tantas e tão grandes, que cobriam o rosto dessa pessoa por completo. Atrás, empurrando a cadeira, vinha uma senhora ofegante, o suor lhe derramava sobre o rosto e ela se esforçava para levar a acadeira até a igreja. Naquele momento, percebi quem vinha coberta de flores. Dona Vânia, sobre quem já falei aqui (http://www.ospirulitosacabaram.blogspot.com.br/2012/08/com-carinho.html). A rã no tacho de leite.
A poucos dias, essa senhora havia quebrado a bacia. Além de todos os seus problemas, ela tinha que aguentar mais uma dor, e não poderia mais fazer o transplante, tendo que piorar o estado de seus braços, por continuar a fazer transfusão.  Ela era, de todos os fiéis que frequentavam a missa (e, por seu estado, nós não tínhamos mais a visto) a que mais tinha o direito, e até dever, de se poupar do calor e esforço e ficar em casa, se cuidando. Mas ela vinha, lutando contra a dor que sentia, e que se estampava em seu rosto, e sempre auxiliada pela irmã, trazer as flores ao Santo a quem ela tanto orava.
   Quando ela chegou, nós logo tratamos de pegar a cadeira de rodas e dar uma "folga" a sua irmã, também uma senhora já meio frágil. Assim que me viu, disse-me "Manda alguém lá na minha casa, porque eu fiz uns pudins para dar à festa, mas não pude trazer por causa da cadeira!".
   Posso dizer que lutei contra minhas lágrimas, e que tive certeza de que a fé realmente move e dá forças ao ser humano.
   Sei que nem todas as pessoas que leem o que escrevo, acreditam em algo superior, ou em Deus, propriamente. Mas gostaria de fazer um pedido: Jamais tirem a fé de alguém. Jamais façam uma pessoa duvidar daquilo em que ela acredita. É o maior tesouro e esperança que essa pessoa pode ter, e, assim como a Dona Vânia, pode ser o que a mantem viva até agora.

   Também nesse dia recebi notícias terríveis: uma prima no hospital, perdendo os movimentos e forças do corpo de maneira gradual e com esse problema sendo ainda um mistério, surgido do nada. E um amigo muito querido com leucemia, também no hospital, em coma.
   Problemas que vêm como surpresas, terríveis e tristes surpresas. E nesses momentos, quando eu não posso fazer nada por eles (nem doar meu sangue eu não posso mais) é que eu mais rezo. São as horas em que minha fé tem mais "serventia". Pois, é como dizem: "Rezar não é pensar demais, e sim amar demais".
   Aproveito aqui a história da Dona Vânia para pedir orações e pensamentos bons aos meus amigos e prima que se encontram com essas provações no meio de suas vidas.
   Continuem a nadar, amigos. Pulem. O leite vai virar manteiga.
   E eu estou aqui torcendo, e orando, de coração.

Caro jovem




   Levante desse sofá. Desliga esse computador (mas só depois que terminar de ler). Fecha o e-mail e o Facebook,  ninguém vai te solicitar hoje, por esse segundo.
Se tens saúde e vitalidade agora, você sabe que não terá para sempre. Saia da frente do computador, e vá correr. Se estiver chovendo, dance e sinta a água te molhar por inteiro. Se estiver frio, abrace e sinta o amor quente dos outros. Sinta. Porque sua vida não se estenderá por todos os anos da humanidade. Você precisa correr. Faça seu coração acelerar e pare para ouvir o ritmo que bombeia vida através das suas veias. Agradeça por ter tudo isso, e por sempre ter tido a sorte de continuar com a cabeça erguida.
   Se desmoronou, lembre-se que nós caímos mil vezes durante nossa construção. Dê valor ao seu caráter e a todos e tudo que o formaram.
   E comece a pensar em sua vida. O que você quer fazer com ela?
   Daqui a dez anos, você pode estar passeando de bicicleta pela orla de uma lagoa. A vida passou e você já percebeu que nem tudo que vale a pena pode ser feito através de uma tela high-tec . Suas vitórias estão listadas em uma folha de papel. Nenhuma delas é uma pessoa, ainda. Mas vives tranquilo (a) e feliz, do jeito que sempre planejou e continua construindo sua vida.
   Ou você pode estar na cabeceira de uma mesa, olhando sua família reunida em torno dela e dando graças a Deus por ter achado as pessoas que perpetuariam sua vida e que a tornariam prazerosa a cada passo dado. Suas conquistas podem se resumir em pessoas, ninguém liga. Pode também se resumir em alcances, em empregos. O importante é que você tenha a vida que sempre quis, ou que descobriu tarde demais que queria.
   Também pode ser que você já tenha viajado o mundo, falado várias línguas e lido muitos livros. Pode ser que sua vida se passe dentro de um escritório e tenha sucesso no que faz. Ou você pode passar os fins de semana na praia e se divertindo do jeito que você quiser.
   Mas não perca tempo com aquilo que não te faz feliz, e com aquilo que não te faz crescer. Trabalhe para você e para mais ninguém. Mas comece a trabalhar. 
   Comece a trabalhar para aquilo que quer! Use suas ferramentas da melhor forma. Se você tem acesso à rede mundial de computadores, então use sua voz para dizer aquilo que está errado e aquilo que está certo. Aprenda...
   Mude o mundo. Mas, primeiro, mude você.
   Vamos nos humanizar antes de melhorar as máquinas que temos.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Acúmulo de culpas

   Estou novamente em casa, com meus momentos de ócio, e não fui te visitar - de novo.
   Penso sempre: "Porque ela não vem aqui?" Tentando amenizar minha culpa que, agora, transborda e pesa nos meus ombros. Sou uma acumuladora.
   Acumulo amizades, dores, culpas, anseios, sonhos impossíveis e que eu nem quero, realmente, mais. Meu ser é lotado de coisas velhas e que eu já deveria ter jogado fora. Promessas não cumpridas impedem que minhas gavetas se fechem, e sobre cada móvel há pilhas de pessoas quase esquecidas, mas que eu não quero esquecer. Elas já me esqueceram, claro, mas todas aquelas culpas sobre as quais eu acidentalmente piso enquanto caminho - pois se atiram pelo meu chão - não deixam minha memória ser ruim.
   As minhas dores estão bem escondidas pelos cantos, para que ninguém que se atreva a olhar mais de perto consiga achá-las, e entre todas aquelas flores secas no meio de todos os livros já lidos, estão aqueles sonhos antigos, que eu nem quero mais, mas que (como roupas velhas) não me desfaço por medo de nunca mais conseguir olhar para trás; nunca mais poder voltar à minha forma antiga.
   E ali, escondida, está você. Aliás, escondida não! Ainda lembro tanto e tantas vezes daquela visita prometida, que você só pode estar sentada espaçosamente sobre meu sofá, assoviando e batendo palmas para atrair minha atenção a cada vez que passo. Me sinto uma assassina, como se tivesse te matado no meu cotidiano, mesmo você ainda estando tão viva no meu íntimo. Mas a verdade é que nós duas mudamos, e que não faríamos mais tanto bem uma à outra.
   A coisa toda é que eu não quero mais ser uma acumuladora. Preciso jogar fora o que pesa dentro de mim. E se isso implicar te jogar, jogar nossa amizade, no lixo, assim será. Tudo para poder caminhar mais leve e seguir em frente na escalada. É o que irei fazer: jogar fora todo o peso inútil.
   Me entenda, cara velha amiga. Vamos seguir em frente e esquecer aquela promessa de nunca mais nos separar. Não aguento mais todos os teus quilos emocionais, e não gosto de pensar que você pode estar me esperando. Foi ótimo enquanto foi, mas te carregar seria como guardar papel de bombom na agenda, só pra lembrar como o dia foi lindo.
   E eu não preciso desse tipo de lembrete. Eu sempre vou lembrar, mas só quando eu quiser.

Pílulas

  
   Por que falar tanto da hipocrisia, se é nada mais que uma condição humana? Todos vivem a hipocrisia, e mais ainda os que falam nela e a criticam sem parar. Você que fala das pessoas hipócritas, se escabela, sente nojo dessa espécie, não gostava de Justin Bieber e agora fingi ânsias de vômito quando ouve uma de suas músicas? 
   
   Hipocrisia então, não seria mais um modo de crescer e evoluir? Ou até mesmo de querer que o outro evolua?
   
   Como hoje existem tantas pessoas falando mal da sociedade, e essa continua do jeito que é? Não somos nós a sociedade? Não temos em nossas mãos o poder de mudá-la, mudando nossos atos e modos de agir e pensar?