sábado, 16 de março de 2013

Maturidade


Hoje me dou conta do quanto cresci e evoluí ao longo dos últimos anos. Olho pra trás e lá estou, uma menina boba, que acreditava em tudo o que me diziam, que achava pessoas que não mereciam, geniais. Que não sabia onde queria chegar, e tinha certeza que não chegaria a um lugar muito bom.

E lá, a adolescente tentando parecer má, achando que a vida ia passar sem nenhuma diversão caso não fizesse nada. Não querendo encarar que seus atos refletiam em que ela era, e no que a vida a devolvia. Chateada por causa das muitas coisas que tinha que fazer sem vontade, esperando a permissão da mãe para ir nas muitas festas para a qual era convidada, brava por nunca poder ir a nenhuma. Utilizando mal todas as novidades que chegavam às suas mãos, entendendo tudo errado, sonhando sonhos inconsequentes, com opiniões errôneas e mal baseadas, achando que só quem estava certa era eu.

Às vezes, é verdade, sinto como se agora eu fosse uma velha. Não peço mais para ir às festas, não tenho mais vontade. Aos convites, respondo simpática com uma promessa de que vou ver se posso, se consigo ir. Nunca vejo.

Mas agora, percebo coisas importantíssimas que não percebia na época. Me vejo no espelho e tenho a faca e o queijo em minhas mãos, e pessoas que me ensinam como usá-los. Recebi as melhores oportunidades que a vida poderia me dar para aprender, e talvez não as tenha utilizado de forma correta. O amor, que eu achava que nunca iria chegar, acabou me encontrando, zonza e perdida, e me ensinou tanta coisa... Me amadureceu pelo simples fato de estar ao meu lado, me mostrando o seu modo de pensar.

Refinei minhas escolhas de amigos, aprendi que mais não é sempre melhor. Aprendi, também, que não é vivendo a vida das heroínas dos livros que até hoje devoro (uma das coisas que não mudou, e que talvez sempre tenha sido parte da minha personalidade) que vou encontrar a felicidade; e que posso realizar coisas fantásticas se a preguiça me deixar de lado, ela quase humana, eu quase coisa.

Errei em muitas coisas pelo caminho, e até hoje ainda erro. Peço desculpas aos que machuquei enquanto aprendia a viver, e aos projetos que deixei para trás, para seguir em busca de avanços e de coisas melhores. Mas não posso deixar de agradecer à todas essas pessoas que me fizeram perceber que a maturidade ainda não me havia alcançado, e que eu deveria correr para buscá-la.

sábado, 9 de março de 2013

09.03.2013


Estava eu um belo dia, tranquilamente chegando em casa, tarde da noite, depois de ir à casa de uma tia minha. Ela precisava de ajuda com seu novo aparelho de chá, e eu era a pessoa mais indicada.
Mal entro na garagem e me deparo com um sofá amarelo, que antes não se encontrava lá, e do qual eu não lembrava de modo algum. Sobre o sofá, sentavam-se duas mulheres, lindas tal qual afrodite, das quais também não tinha nenhum conhecimento. Mesmo sem conhecê-las, entro na garagem calmamente e sento-me junto a elas, naquele sofá estranho. Não sei, parando a analisar agora, onde estava com a cabeça, mas juro que fui lá conversar com duas desconhecidas que entraram em minha casa à noite e sem o meu conhecimento.
Imaginem minha surpresa quando as duas mulheres, ao sorrirem para mim, envocam um mar de aranhas que me cobrem por inteiro: rosto, braços, pernas... o corpo todo. Mal podia me mover. Sinto algo estranho debaixo daquelas aranhas, como se elas estivessem me picando tanto que eu nem sentia mais dor alguma. Tão de repente quanto elas vieram, foram embora.
Quando me vi descoberta daquele enxame de aranhas, percebi que em mim algo mudara. Da parte de baixo das minhas costas, onde antes se encontrava meu traseiro, saíam tentáculos e pernas de aranha, como se eu tivesse me tornado uma. Era uma visão nojenta, e quando levantei meus olhos, percebi que as duas moças que estavam no sofá também tinham aquilo, e que haviam se juntado a elas mais uma, um pouco mais nova e menos bonita.
Então elas me explicaram como funcionavam as coisas.
As duas mulheres iniciais eram chefes de um grupo que manipulava aranhas através de uma maldição, e que precisavam recrutar  mais meninas para a "gang" pois caso contrário sofreriam elas mesmas a maldição. Estavam me aliciando, e eu precisava ir atrás de mais moças. Os tentáculos iriam diminuir quando eu atingisse um número X de vítimas, até que sumissem. Nesse ponto eu poderia ir para casa e conviver com meus familiares e amigos, mas deveria continuar a missão.
Elas me mantiveram em cativeiro durante dias, dentro da minha própria garagem (que eu não sei como minha família não viu que eu estava bem ali). Eu não queria fazer vítimas, e chorava todos os dias, sem poder ver meus pais nem ninguém.
E foi nesse ponto que eu acordei.

Gaia


   Gaia ia ser Mariana, mas Gaia é forte, segura, presente. Ela não tem medo de nada, mas tem medo de trovão. Quando chove, quer brincar na rua, quer tomar banho de chuva; mas quando ouve os brados dos raios que caem ao longe, corre e se agarra a mim, geme "mamãe" e se encolhe no meu colo.
   Gaia é aquela menina que desde muito cedo dá vida à casa onde entra, quase sempre correndo. Responde às gracinhas dos tios com modos malcriados, mas ninguém liga porque ela é adorável. Não gosta que falem com ela de brincadeira, e quando quer, quer.
   Ela também adora valsa, assim como eu. Nós costumamos dançar muito, na sala de estar, de meias e pijamas. Quando acaba uma música, o tempo para, até que outra recomece. Ela fica como uma estátua, sem mexer sequer os olhos, e exige que façamos assim também.
   Não é influenciável como outras crianças. Às vezes, não parece ter a idade que tem. Mas briga com alguém e esquece fácil, não guarda rancor nem por dez minutos.
   Quando gosta, gosta. Quando não gosta, não interessa quem fale o quê, continua a não gostar. E ela gosta dos Mutantes que eu escuto todo o dia, e pula corda e corre dentro de casa, apesar dos meus protestos. Ela gosta de bichinhos de pelúcia, das músicas infantis e dos Rolling Stones. Nós comemos pipoca toda a quarta-feira, pela tarde. Todo o sábado vamos ao cinema e comemos chocolate. Gaia gosta de comer fruta direto do pé, e gosta de comer com a mão, sem garfo ou guardanapo.
   Gaia ia se chamar Mariana. Mas ela não é céu, ela é terra: Forte e estável.