sábado, 9 de março de 2013

Gaia


   Gaia ia ser Mariana, mas Gaia é forte, segura, presente. Ela não tem medo de nada, mas tem medo de trovão. Quando chove, quer brincar na rua, quer tomar banho de chuva; mas quando ouve os brados dos raios que caem ao longe, corre e se agarra a mim, geme "mamãe" e se encolhe no meu colo.
   Gaia é aquela menina que desde muito cedo dá vida à casa onde entra, quase sempre correndo. Responde às gracinhas dos tios com modos malcriados, mas ninguém liga porque ela é adorável. Não gosta que falem com ela de brincadeira, e quando quer, quer.
   Ela também adora valsa, assim como eu. Nós costumamos dançar muito, na sala de estar, de meias e pijamas. Quando acaba uma música, o tempo para, até que outra recomece. Ela fica como uma estátua, sem mexer sequer os olhos, e exige que façamos assim também.
   Não é influenciável como outras crianças. Às vezes, não parece ter a idade que tem. Mas briga com alguém e esquece fácil, não guarda rancor nem por dez minutos.
   Quando gosta, gosta. Quando não gosta, não interessa quem fale o quê, continua a não gostar. E ela gosta dos Mutantes que eu escuto todo o dia, e pula corda e corre dentro de casa, apesar dos meus protestos. Ela gosta de bichinhos de pelúcia, das músicas infantis e dos Rolling Stones. Nós comemos pipoca toda a quarta-feira, pela tarde. Todo o sábado vamos ao cinema e comemos chocolate. Gaia gosta de comer fruta direto do pé, e gosta de comer com a mão, sem garfo ou guardanapo.
   Gaia ia se chamar Mariana. Mas ela não é céu, ela é terra: Forte e estável.

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